No centenário do nascimento de Mauro Mota , (16 de agosto de 1911), deixo aqui registrada a minha homenagem a esse grande poeta pernambucano da Geração 45.
Tive o prazer e a honra de conhecê-lo no final dos anos setenta, quando comecei a aparecer nas rodas literárias do Recife. Mauro gostava de frequentar o Clube Alemão, na Estrada do Encanamento, entre Casa Amarela e Parnamirim. Em certos dias da semana, ao fim da tarde , lá se encontrava com outros poetas e escritores. E foi numa desses encontros de poesia que o conheci. Depois, algumas vezes , cruzei com ele na rua do Imperador, o poeta a caminho do Arquivo Público,( onde era Diretor), e eu do Gabinete Português de Leitura, que Mauro Mota frequentou assiduamente. Mais tarde, deu-me a alegria de escrever, um breve mas valioso comentário acerca da minha poesia , no Diário de Pernambuco.
Mauro Mota faleceu no dia 22 de novembro de 1984. Nesse dia estava eu em Juiz de Fora (MG), para assumir o meu lugar de sócia correspondente na Academia de Letras daquela cidade. No início da sessão, prestei-lhe uma singela homenagem, tomando-o como meu padrinho e recitando uma das suas belas elegias.
Mauro Mota foi membro das Academias Brasileira e Pernambucana de Letras ( sendo, desta última, presidente durante vários anos).
Sua obra atravessou fronteiras, com poemas traduzidos em inglês, italiano e espanhol.
Da “Antologia Didática de poetas pernambucanos” (1988, org. por Ézio Rafael , Cremilda de Matos e Izabel M. da Silva ), transcrevo o trecho que se segue e, a seguir, o poema referido no mesmo:
Poeta profundamente identificado com a paisagem, as ruas, os costumes e os valores de sua terra, procurou, no entanto, numa simples descrição de uma rua, como a Rua do Crespo, por exemplo, dar-lhe sempre uma transcendência lírica universal”.
RUA DO CRESPO (1870)
( Em desenho de Scklappritz)
MAURO MOTA
Lojas vestindo anáguas:
As marquises de pano.
Dois cachorros sem dono
Mordem o primeiro plano.
Um soldado a cavalo
O que tanto vigia?
Ah, se prender pudesse
Esse tempo e esse dia!
Agitam-se as parelhas
Ao sinal do boleeiro.
Para onde a diligencia
Conduz os passageiros?
Onde estão os meninos
Daqui, que não escutam
O pregão das escravas
Com sequilhos e frutas?
Os lampiões em fila
São, de longe, pedestres
Magros, andando retos
Para a igreja no fundo.
( Um homem prevenido
Abre o seu guarda-roupa).
Vem caindo a neblina
Das varandas na rua.
(in Antologia Didática de Poetas Pernambucanos )
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