segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

DIÁRIO DAS CHUVAS

 CAPITULO 41.


Que fantasmas se escondem e me espreitam
por detrás das cortinas,
sacadas obscuras, brumas, arcarias?
Aonde foram os anjos e as cegonhas?
Não há neve nos telhados.
Não há lobos nos montes.
E os ciganos partiram comigo.
Signos renascem, exatos e imóveis,
tão antigos e tão novos,
tão meus e tão estranhos.
Agora sou apenas a visitante,
que vem de longe e passa, forasteira.
No entanto estas pedras, estas heras,
estas giestas,
este pinhal, chão de carumas e avencas,
esta cor macia,
este barro e musgo,
estas bermas de ervas, estas sombras,
estas árvores,estes muros de rosas, estes granitos,
este êxtase, isto - ai,
tudo isto!
- sou eu, meu avesso, meu dentro,
lugar secreto,
minha ermida,
convento,
onde só comigo me encontro.

(in Diário das Chuvas, ed. Bagaço/Recife/1995