quinta-feira, 18 de agosto de 2011

HOMENAGEM AO POETA MAURO MOTA


NO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO ( 16/agosto/1911)
Tive o prazer  e a honra de conhecer Mauro Mota  no   final dos anos setenta, quando comecei a aparecer nas rodas literárias do Recife. Mauro gostava de  frequentar o Clube Alemão, na Estrada do Encanamento, entre  Casa Amarela  e Parnamirim. Em certos dias da semana, ao  fim da tarde , lá se encontrava com outros poetas e escritores, e foi numa desses  encontros  de poesia que o conheci.  Depois, algumas  vezes , nos cruzamos  na rua do Imperador, ele a caminho do Arquivo  Público  ( onde era Diretor)  e eu do Gabinete Português de Leitura,    que Mauro Mota   frequentou assiduamente.   Mais tarde, deu-me  a  alegria de  escrever, um  breve  mas valioso comentário  acerca da minha poesia  , no Diário de Pernambuco.
Mauro Mota faleceu no dia 22 de novembro de 1984. Nesse dia estava eu  em  Juiz de Fora (MG), para assumir o meu lugar de sócia correspondente na Academia  de Letras  daquela cidade. No início da sessão, prestei-lhe emocionada homenagem, tomando-o como meu padrinho e recitando uma das suas elegias.
Mauro Mota foi membro das Academias Brasileira e Pernambucana de Letras  ( sendo, desta última, presidente durante vários anos).
A obra de Mauro Mota atravessou fronteiras, com poemas traduzidos em inglês, italiano e  espanhol.
Da “Antologia  Didática de poetas pernambucanos” (1988, org. por Ézio  Rafael , Cremilda  de Matos e Izabel M. da Silva ), transcrevo um trecho e a seguir o poema referido no mesmo:
Poeta profundamente identificado com a paisagem, as ruas, os costumes e os valores de sua terra, procurou, no entanto, numa simples descrição de uma rua, como a Rua do Crespo, por exemplo, dar-lhe sempre uma transcendência lírica universal”.
No  centenário do nascimento de  Mauro Mota ,(16 de agosto de 1911),  deixo aqui registrada a minha homenagem a esse grande poeta brasileiro, com a minha profunda admiração.
RUA DO CRESPO (1870)
( Em desenho de Scklappritz)
                              MAURO MOTA
Lojas  vestindo anáguas:
As marquises de pano.
Dois cachorros sem dono
Mordem o primeiro plano.

Um soldado a cavalo
O que tanto vigia?
Ah, se prender pudesse
Esse tempo e esse dia!

Agitam-se as parelhas
Ao  sinal do boleeiro.
Para onde a diligencia
Conduz os passageiros?

Onde estão os meninos
Daqui, que não  escutam
 O pregão das escravas
Com sequilhos e frutas?

Os lampiões em fila
São, de longe,  pedestres
Magros, andando  retos
Para a igreja no fundo.

( Um homem  prevenido
Abre  o seu guarda-roupa).
Vem caindo a neblina
Das varandas na rua.