terça-feira, 9 de julho de 2013

Seis poemas de chuva para as águas de julho




 
 

 
 Maria Hortas
da série MEMÓRIAS
acrílico s/tela
0.70 x0.90                                                                 
 
 
 
 
 
 
APASSIONATA
 
De madrugada
andante
o vento
veio 
 assobiando
 para  anunciá-la.
 
Em surdina
mãos de anjos  abriram
a partitura :
acordes, arpejos
 tilintar de  candelabros.
 
Nos teclados  de julho
a sonata da chuva:
 
cascata de cristal
-- apassionata.
 
(inédito, julho/2013)
 

 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
                        VITRAL

 

Nestas sonatas de inverno

cachoeiras pluviais

pluralizam-se os eternos

 dilúvios conventuais:

cisternas de aves retidas

em claustro de pedra e sombra

inventário de outra chuva

que em minha chuva se alonga.

Cursos d´água que reatam

um a um os vendavais

mantos, rendas de arrepios

nos ombros das sombras nuas

sobrepostas nos vitrais.

                                           ( in Relógio d ´Água)

 

 
-
 
 
 
Maria Hortas
Conversas de botequim
Acrílico sobre tela
0.80 x 1.60
 
 
 
 DE CHUVA  quero esta cantiga mansa

por ti deslize como desliza a dança

da chuva  pelo sonho da infância.

 

  De chuva quero esta cantiga terna

em ti se empoce como se guarda eterna

a chuva no escuro da cisterna.

                                                    ( in Flauta e Gesto)

 
 
 
 
ACALANTO

 

Quando a noite passeia pelo jardim a brisa

traz  de volta a infância no seu coche noturno.

E no sono regressa a dolente cantiga

contradança de inverno

pandeiretas de chuva.

O marulho do bosque

conversas de arvoredo

de um mundo sem pressa

hibernando em segredo.

Negra molhada noite

onde respira a vida

contradança de inverno

pandeiretas de chuva.

                                         ( in  Fonte de Pássaros)

 

 

PLUVIAL

 

Vergastando a noite

Vem a chuva

ventania
 
subitamente abrindo

todas as janelas

do meu coração.

                                ( in   Fonte de Pássaros)
 
 

 
Maria Hortas
acrílico s/ tela
da série JARDINS
0.60x0.80
 
 
 

 

 

                                      

CÍCLICO

 

De vez em quando um vendaval me visita

e arreda as telhas do telhado:

estrelas me espreitam e bentevis me acordam.

                                                                                                   ( in  Fonte de Pássaros)