Natural de
Palmares, Pernambuco, Juareiz Correya
nasceu em 1951, mas radicou-se no
Recife desde 1970 , onde, através da sua
editora Nordestal, publicou a revista POESIA, divulgando não só autores nordestinos, mas de vários estados
do Brasil. Vem daí o seu incansável, contínuo
e importante trabalho como promotor cultural, criando e realizando eventos literários e
dedicando-se, sistematicamente, à divulgação da obra de dois importantes
nomes de conterrâneos seus: Ascenso
Ferreira e Hermilo Borba Filho.
Entre 1987 e 2003
voltou a Palmares, onde, à frente da
Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, com o apoio da Prefeitura de
Palmares, realizou significativo trabalho cultural .
A breve
informação biográfica, parece-me necessária para traçar o perfil de Juareiz Correya, cuja vida caminha paralela à sua poesia e vice-versa. Vibrante, tudo o que este
poeta escreve reflete a sua experiência vital : seus poemas são imprevisíveis, e
sua linguagem , visceral.
Estas reflexões
me vêem após a releitura do livro de Juareiz Correya Americanto
Amar America e outros poemas do século 20. - Panamerica Nordestal
Editora,Recife, PE, 2010 –oportuna reunião de tudo o que o autor já
publicou, quer em forma de livro, quer como simples folhetos de cordel, e creio
que mais alguns poemas inéditos até a presente edição.
Sem qualquer
intenção crítica, pois para tal são necessárias ferramentas de que não
disponho, ao traçar estas breves linhas, interessa-me apenas fixar algumas impressões da minha leitura, por me parece importante , de
alguma maneira, divulgar um autor que
tem dedicado toda a sua vida à
poesia, quer como criador, quer como editor.
A sintonia entre
leitor e autor ocorre quando o poema provoca em quem o lê um encontro , ou
seja, um
aprofundamento que vai confirmar a ressonância
a que se refere Gaston Bachelard : “o poema nos toma por inteiro” (...) “como
se, com sua exuberância, o poema reanimasse profundezas do nosso ser”.
Fico pensando: quantas
vezes a leitura de um poema se desdobra em nós numa nova criação? .
O professor Massaud Moisés, crítico e profundo conhecedor da literatura,
já disse que “ a arte literária não se reduz ( ou não deve reduzir-se) a uma
forma banal de entretenimento”. E
prossegue:” (...) mais do que recreação de alto-nível, a Literatura constitui
uma forma de conhecer o mundo e os homens: dotada de uma séria missão ,
colabora para o desvendamento daquilo que o homem, conscientemente ou não,
persegue durante toda a existência”.
Esta definição me parece justa e precisa no caso da poesia de J. Correya. Tudo o que ele escreve é a expressão de sua vida, a superação e a
libertação do seu cotidiano, o reflexo
do seu tempo , e, como consequência, o
registro do ser humano, onde quer que esteja e em que geografia habite.
Veja-se, por
exemplo, este poema:
Amo só o que conheço, nada é perdido.
O bairro onde vivo e seus arredores.
Os homens de hoje, mesmo os que decepcionam,
sem mito e esplendor,
humanamente humanos.
As obras definidas que acabo de ler.
A leitura, não a saudade, da poesia do mundo.
O Ocidente e o Oriente que, na verdade,
existem sob o sol para todos.
Os mais velhos, com quem converso
as horas de suas saudades.
As múltiplas formas da memória,
que não se faz do esquecido.
A língua que falo e as leituras que decifro.
Todos os versos de que me lembro, mesmo por
hábito.
Os amigos que não faltam, porque nunca morrem.
A ilimitada eternidade da Arte.
A mulher que está ao meu lado,
companheira indivisível.
Até mesmo o que não sei, como o xadrez e a
álgebra.
( in
América Indignada Y Poemas da Alegria da Vida
- Panamerica Produções / Nordestal Editora, São
Paulo / Recife, 1991)
Carlos Drummond de Andrade, num dos seus poemas mais
conhecidos, declarou: “Tenho apenas duas
mãos e o sentimento do mundo”. No poema de Juareiz acima transcrito, percebemos que, também ele
, não oculta o seu “
sentimento do mundo”: O bairro onde vivo e seus
arredores. /Os homens de hoje, mesmo os que decepcionam, /sem mito e esplendor,
humanamente humanos.
A imensidão interior do poeta com frequência aflora nos seus poemas. Veja-se, por exemplo, este fragmento do poema Flor que não se cheira, do conjunto Outros Poemas no livro em questão:
(...) e saio de mim e me entrego tanto/vendaval no
coração da cidade/cada vez mais nu e louco e santo/só minha paixão por tudo
arde(...) cada vez mais alto e largo e fundo/navego meu rio, capricho meu
barro/voando meu fogo purifico o mundo.
No pórtico de um
novo século, Juareiz Correya não se deixa embalar pelo marasmo do
pós-modernismo, onde muito pouco aconteceu de renovador na poesia universal.
Lendo sua obra sente-se que ele desafia o seu tempo, fugindo ao tédio de
hábitos e formas rotineiras, sem, todavia, desprezar as vozes dos
grandes e eternos mestres da poesia.
Era nisso também que eu pensava quando falei em ressonância:
porque, pelas estradas de Juareiz Correya, neste seu Americanto Amar América e
outros poemas do século XX,ouço ecos de poetas inesquecíveis (Lorca,
Neruda,Octavio Paz, F. Pessoa, Ginsberg e
tantas outras vozes marcantes) , que têm
contribuído para o canto renovado
de muitos bons poetas contemporâneos: este, inclusive.
(Texto inédito, escrito em Aldeia ,nos arredores do
Recife, 2011)
Excelente texto sobre o poeta Juareiz Correya. Concordo com tudo o que você diz sobre ele, e acrescento: É um homem que tem vivido a sua profissão de poeta, mais do que de escritor e editor, cotidianamente, como um evangelizador persistente e obstinado. parabéns pela sua lucidez, amiga. E pela oportunidade de aqui registrar este comentário.
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