TEOREMA
Que nome tem o que em mim flameja
por vezes claro e tão luminoso
outras, tão fundo, que se põe umbroso
que nome tem, em mim, seja o que seja?
Quem equaciona este teorema?
como cifrá-lo, que signo lhe invento?
Vem na cadência do tropel do vento
o repetido som que o emblema?
Ah fogo fátuo, cometa em viagem
alumiando nos breus do contexto
os plenilúnios de outro personagem:
lume verbal, lanterna de romagem
a projetar nas ruas do pretexto
a sombra que me leva na bagagem.
(in Relógio d´água, 1985)
LEGADO
Para amanhã e depois, mais tarde
àqueles que ainda gostem de chuva
para habitar enigmas
labirintos e prodígios
para não deixar fugir o espanto
diante das coisas essenciais
para ouvir
o silêncio de Deus
para não me perder de mim:
escrevo.
(in Fonte de Pássaros,1999)
MALA
Espécie de mala
a alma
do poeta
porão onde se guarda
tudo o que serve
para a poesia:
cartas por enviar
labirintos de intenções
partituras inacabadas
vertigens inominadas
catedrais de silêncio
mapas indecifrados
eclipses, horizontes
icebergues, vulcões
sonatas de chuva
retratos em sépia
arquivo de auroras
e crepúsculos
maravilha de instantes
tempo avulso
que se escoa e nos leva
na voragem da ciranda.
O que guardo na alma
Abro na poesia:
Nela interrogo a vida
Dia após dia.
( in Rumor de Vento, 2009)
Três poemas que se completam, como se fossem capítulos de um livro.
ResponderExcluirComo a sua poesia me faz bem! Sempre fez! Olho para trás e me pergunto quando tive o privilégio de lhe conhecer. Não lembro mais. Acho que sempre fomos amigos.