( Sugestões para viajantes que não conhecem este belo país)
Geralmente os turistas brasileiros que passam por Portugal ou vão a caminho das grandes capitais européias , ou já estão regressando de um tour. Via de regra, como já estão por ali, aproveitam para conhecer Lisboa e arredores, tirando fotos e acrescentando mais um item ao seu diário de viagem.
Visitam, então, os pontos turísticos obrigatórios de quem desembarca pela primeira vez na capital portuguesa. Vão ao Mosteiro dos Jerônimos, de estilo manuelino, que deslumbra qualquer turista, pela beleza do rendilhado das colunas e dos pilares, a abóbada lançada como se fosse o bojo de um navio suspenso ao contrário, num milagre de arquitetura , inexplicável para os leigos. No roteiro , aproveitam para se deliciar com os famosos pastéis de Belém e depois dão um pulo à Torre do mesmo nome, de onde, segundo consta, partiram as caravelas de Cabral rumo ao Brasil. Verdadeira maravilha de joalheria em pedra, a Torre de Belém lembra contos de fadas, com suas misteriosas salas sobrepostas, guaritas, varandins e subterrâneos.Quem gosta de museus, tem muitas opções. Imperdíveis são o de Arte Antiga ( que já se chamou Museu das Janelas Verdes) e o Museu da Fundação Calouste Gulbenkian.
Mas há outros pontos obrigatórios em Lisboa: o Castelo de São Jorge, por exemplo. Fortaleza de onde se tem uma visão panorâmica da cidade, foi testemunha de muitas batalhas, por onde passaram visigodos, romanos e mouros e está cercado por belos jardins, onde habitam pavões e cisnes .
Quanto à Lisboa noturna, convida a romaria por casas de fados e restaurantes típicos, com bons petiscos de bacalhau ou chouriço,onde se pode beber um copo de tinto ou sangria ( refresco de vinho , água, laranja e açúcar). Feito o roteiro noturno por Alfama e Mouraria, após ter passado pelo Terreiro do Paço, Rossio , Avenida da Liberdade e Parque Eduardo Sétimo, qualquer iniciante nos caminhos de Portugal se dá por satisfeito e volta ao Brasil acreditando piamente que conheceu a santa terrinha dos seus antepassados.
No entanto, como diria o antigo poeta , trata-se de ledo engano.
Portugal não é só Lisboa. Mesmo que o visitante tenha conhecido os arredores da capital - a linha do Estoril até Cascais - ainda ficou muita coisa para ver na periferia lisboeta. De outra vez , será interessante ir a Sintra, lugar de magia e sonho. Habitada desde a pré-história , foi pouso de romanos, que a chamaram de Cyntia (Lua) , de onde se deriva Sintra, denominação que tem tudo a ver com as celebrações e ritos lunares da cultura romana. Com suas misteriosas quintas particulares, seus jardins sombrios, seus castelos e palácios, esta cidade serrana tem restaurantes e pousadas que convidam a ficar. Cantada e decantada através dos tempos por prosadores e poetas, Sintra, segundo consta, parece ser um lugar único, devido às suas circunstâncias climáticas e paisagísticas. Além dos romanos,também os mouros a habitaram, edificando, inclusive, um belíssimo castelo em ponto estratégico, e imprimindo a sua passagem em várias outras edificações.Todavia, o roteiro que até aqui referimos, dá apenas uma breve amostra do perfil de Portugal. Na verdade, para conhecer este pequeno porém múltiplo país, faz-se necessário enveredar pelo seu interior, surpreender suas vilas e aldeias, conhecer sua gente hospitaleira, percorrer suas estradas sem pressa, escolhendo o percurso de acordo com o estado de espírito e com o clima. Se o tempo for bom, com sol fora e dentro da gente, é tempo de ir ao Algarve, quer no tempo das amendoeiras em flor , quer no verão, quando por lá aportam turistas do mundo inteiro. Muitas são as localidades e praias a visitar. Um ponto obrigatório é, certamente, Vila Real de Santo António, cidade grande, com todas as vantagens e desvantagens da civilização, construída pelo Marquês de Pombal, que tentou repetir a baixa lisboeta. Nos arredores, ruínas da vila romana de Milreu, das mais completas que se encontram em Portugal.
Aliás, ruínas romanas é o que não falta pelo país afora. No Alentejo, uma das mais fascinantes províncias portuguesas, há monumentos valiosos, como a aldeia de Monsaraz, onde se encontram reminiscências de um circo romano. E, em Évora, em pleno centro urbano, as colunas do Templo de Diana.Quem gostar de arquitetura mourisca, vai se apaixonar pelo Alentejo, com suas aldeias e vilas branquíssimas, de chaminés tipicamente árabes. Outra riqueza artística alentejana está nas igrejas, com importante policromia de azulejos.
Ainda no campo da arqueologia, perto de Coimbra está Conímbriga, ruinas monumentais de uma cidade que deve ter sido importante e bela.
E por falar em Coimbra, passando por lá, é bom conferir se ainda é “ a capital do amor em Portugal”. Por todos os lados é possível ver poemas inscritos nas paredes. Perto de Coimbra, vá conhecer duas valiosas peças arquitetônicas : os mosteiros de Batalha e Alcobaça. Fundado no século XII pelos monges de Cister, em Alcobaça se encontram os túmulos de D. Pedro I e de Inês de Castro, verdadeiras obras-primas da escultura gótica em Portugal, cuja construção se situa no século XIV. Uma curiosidade do velho e robusto mosteiro é a sua cozinha: atravessada por um braço de rio, conta a lenda que, por uma abertura no chão , os monges da Idade Média pescavam diretamente para as frigideiras.
Quanto ao mosteiro da Batalha, foi mandado edificar por D.João I de Portugal como agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota. É exemplo da arquitetura gótica portuguesa, ou estilo manuelino. Suas rendilhadas arcarias desafiam a opacidade da pedra, que por vezes parece transparente.
No norte de Portugal, região do Douro, é obrigatório conhecer o Porto, sua capital, cidade das famosas caves do vinho que tem o seu nome. O Porto é para amar e jamais esquecer, descobrindo-o devagarinho, caminhando a pé, rumo à Ribeira.
Depois de tanta arte e cultura, meninos, vamos ao vira! Quem gosta de festas populares, e ainda melhor se for verão, precisa ir ao Minho, encontrar feiras e romarias. O Minho está perto da Galiza, na Espanha. Das cidades minhotas, vá a Braga, a Roma portuguesa e depois siga para Valença (já na fronteira com a espanhola Tuy), onde tem de percorrer o centro histórico, cidade amuralhada, de sombria beleza medieval, com ruas estreitas abraçadas por arcos.
O viajante romântico gostará de se embrenhar pelas aldeias, que se encravam nas serras, quer nas Beiras, quer em Trás –os-Montes. Nessa peregrinação lírica, há que pernoitar numa pousada provinciana, comer sopa de legumes com pão caseiro, um bom queijo de ovelha com vinho da adega, coisas que ainda é possível saborear nesses recantos singelos e castiços.Em momentos assim, poderá sentir-se como um personagem de Eça de Queiroz, o Jacinto, por exemplo, do romance “A Cidade e as Serras.”
Ainda no capítulo das serras, se puder, vá se extasiar com a paisagem do Gerês, que tem as cores impressionistas das melhores telas de Gauguin ou Van Gogh. Aí faça uma pausa, preparando-se para o regresso. A Serra do Marão, em Trás-os-Montes, lembra a aurora da terra, face rude de pedra, ainda presente. Dessa região era o poeta Miguel Torga. No silencio daquelas paragens, ouça-o dizer:
“É como se de repente
A minha imagem mudasse
No cristal duma nascente,
E tudo o que sou voltasse
À pureza da semente.”
A minha imagem mudasse
No cristal duma nascente,
E tudo o que sou voltasse
À pureza da semente.”
Texto de Maria de Lourdes Hortas, Publicado no Jornal do Commércio, Recife-PE, coluna TURISMO,10/02/91.
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