MARIA DA PAZ RIBEIRO DANTAS, ensaista e poetisa, faleceu subitamente, de enfarte fulminante, no passado dia 01 de setembro. Natutral de João Pessoa, estava radicada no Recife desde a sua juventude. Com amizade e profunda admiração, em sua homenagem, trancrevo uma singela resenha que escrevi, quando da publicação do seu livro de estréia.
AS PONTES VOARÃO SOBRE OS RIOS
(Sol de Fresta, Poesia- Maria da Paz Ribeiro Dantas/Edições Pirata/Recife, 1980)
Maria da Paz Ribeiro Dantas (paraibana, radicada em Pernambuco), não reuniu ao acaso os quarenta e quatro poemas que compõem o seu livro de estreia. Sem dúvida, a força de SOL DE FRESTA deve-se, em parte, ao fio condutor interligando os poemas, que se sucedem em contínua correspondência. Em seus pretextos líricos, o insistente uso de signos como pássaro, asa, vôo, a recorrente utilização de verbos de movimento - ir, dançar, transpor, sair e, em especial, do verbo libertar – apontam para o tema central da sua problemática: a liberdade.
Eis alguns passos de Sol de Fresta, eloquentes exemplos do que acima foi dito:
Página 10: “ As pontes voarão sobre os rios...”
Pág. 31: A tarde/ grávida de pássaros/ cumpre seu destino de asa (...) E a foice da lua/ cortando cordas de âncoras/libertando navios para o abraço dos ventos(...)
Mesmo quando não se serve de imagens claras de voo, o movimento surge na poesia de Maria da Paz Ribeiro Dantas. No poema que abre o livro, os girassóis têm vida “ e vão em bando pela estrada”. Isto porque, no caleidoscópico universo da poetisa nada está em repouso. A própria paz, para ela, é violenta:
Consumo-me
Na oferenda ao arco-íris.
Entrego-me ao inexorável golpe
De sua violenta
Paz.
Dirigindo às coisas que a cercam um olhar atento, anima-as com a própria vida, dinamizando-as, tornando-as livres de sua condição inanimada. Assim, a autora consegue estabelecer uma ligação entre os objetos inamovíveis e as suas próprias vivencias, realizando, desse modo, aquilo que, no meu entender, constitui uma das finalidades da poesia: harmonizar os vários elementos que compõem a sinfonia cósmica.
Ao captar a realidade submersa, Maria da Paz liberta, inclusive, as vozes do silêncio:
Na manhã de ontem uma árvore transpôs o próprio silencio e começou a chover folhas sobre o /asfalto
Eu vi uma árvore chorando . ( pág. 22)
Uma laranja, um peixe fóssil, uma escova guardada na mala da infância – tudo serve de alvo ao trajeto lírico da poetisa em busca do essencial , do ilimitado.
Um desassossego fecundo a leva a recriar ausências, em versos de profunda intensidade:
Remoto país da infância
Onde ir buscar os dias
Palpitando atrás de que parede?
Na alvorada de um poeta, Sol de Fresta abre espaços para o voo sem fronteiras de Maria da Paz Ribeiro Dantas.
(escrito em Lisboa , no fim do inverno de 1980 e publicado no Diário de Pernambuco em 23/03/1980)
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