sexta-feira, 22 de julho de 2011

DOIS POEMAS ANTIGOS

DUPLA

Presente aqui.
Ausente além.
E vice-versa, sempre.
Assim tão dupla
é que sou inteira.

ECO DE GONÇALVES DIAS

Minha terra tem coqueiros
onde pousam rouxinóis.
Minha terra tem pinheiros
onde canta o sabiá.
As aves das minhas terras
cantam lá e cantam cá
sempre ao inverso de onde
as deveria escutar.

(Poemas publicados no Suplemento de Cultura do Jornal do Fundão,Portugal,
em 4/5/90 . inéditos em livro,  encontrados casualmente numa pasta antiga.)

Um comentário:

  1. SÃO LINDOS POEMAS, CARA AMIGA... ME FAZEM LHE ENVIAR ESTES ECOS DE LOURDINHA HORTAS...

    RETORNO

    para Maria de Lourdes Hortas,
    Recife-Pe.

    ainda existe em meu tempo a raiz do canto: a ponta
    final dum fio de lã.
    vou-me enovelando, passo a colher coqueiros
    pontes praias passagens... me calo en/fados...
    me lembro das fontes - virei menina! – amoras me
    tingindo de grilos e primaveras... fios azuis se
    avolumando...
    acho o dito castiço, o lusitano falar... adeus, sotaque
    mestiço!
    tingem-se de rosa as faces da menina em mim:
    alouram a tropical morena.
    tudo é alumbramento: longes rios brasileiros donde
    saí...
    passo o Equador. aí minha alma rubra vacila
    adivinhando clarins, guitarras e vozes atávicas...
    sete mares me trouxeram a ti, ó Tejo!
    no cais, recomposto, meu xailinho pra frio...


    .................................

    RESIGNAÇÃO

    quando contemplo a tarde lavada em poesia,
    procuro a estrela que pinga do infinito, o vento
    sopra em meu eco uma face de ternura.
    Garcia Sinfonia me pede o Quinto Verde-Verde e
    saio salvando o mundo dos sub-loucos.
    não aceito o quarto coberto da minha poeira que
    nele pousa.
    no rádio do vizinho o impossível livro negro da lei
    falimentar.
    vou virando uma lâmpada até me tornar estrela
    gotejante.
    aí deposito no ocaso uma renúncia.


    ................

    SAGITÁRIO
    (flash-conto)

    teus sinais: setas armando vôo, alturas vincadas em
    sangue e expectativa.
    teu arco retesado, bovinos galopes fogem de mim.
    pensei que fosse horóscopo, mas é sina, questão
    de signo.
    tuas flechas alucinadas singram o zodíaco e ferem
    de amor meu touro signal...

    ......................

    VESPERTINA
    (flash-conto)

    ah!. Palmira, minutamente goteja teu sol em minha praia...
    fugiram de mim as horas da tarde.
    abandonaram-me os sonhos no exato começo do
    sono.
    solidão adentro, ardo sem ti.

    de oscar kellner neto – do livro O QUILOMBO DE PALMIRA

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