DUPLA
Presente aqui.
Ausente além.
E vice-versa, sempre.
Assim tão dupla
é que sou inteira.
ECO DE GONÇALVES DIAS
Minha terra tem coqueiros
onde pousam rouxinóis.
Minha terra tem pinheiros
onde canta o sabiá.
As aves das minhas terras
cantam lá e cantam cá
sempre ao inverso de onde
as deveria escutar.
(Poemas publicados no Suplemento de Cultura do Jornal do Fundão,Portugal,
em 4/5/90 . inéditos em livro, encontrados casualmente numa pasta antiga.)
SÃO LINDOS POEMAS, CARA AMIGA... ME FAZEM LHE ENVIAR ESTES ECOS DE LOURDINHA HORTAS...
ResponderExcluirRETORNO
para Maria de Lourdes Hortas,
Recife-Pe.
ainda existe em meu tempo a raiz do canto: a ponta
final dum fio de lã.
vou-me enovelando, passo a colher coqueiros
pontes praias passagens... me calo en/fados...
me lembro das fontes - virei menina! – amoras me
tingindo de grilos e primaveras... fios azuis se
avolumando...
acho o dito castiço, o lusitano falar... adeus, sotaque
mestiço!
tingem-se de rosa as faces da menina em mim:
alouram a tropical morena.
tudo é alumbramento: longes rios brasileiros donde
saí...
passo o Equador. aí minha alma rubra vacila
adivinhando clarins, guitarras e vozes atávicas...
sete mares me trouxeram a ti, ó Tejo!
no cais, recomposto, meu xailinho pra frio...
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RESIGNAÇÃO
quando contemplo a tarde lavada em poesia,
procuro a estrela que pinga do infinito, o vento
sopra em meu eco uma face de ternura.
Garcia Sinfonia me pede o Quinto Verde-Verde e
saio salvando o mundo dos sub-loucos.
não aceito o quarto coberto da minha poeira que
nele pousa.
no rádio do vizinho o impossível livro negro da lei
falimentar.
vou virando uma lâmpada até me tornar estrela
gotejante.
aí deposito no ocaso uma renúncia.
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SAGITÁRIO
(flash-conto)
teus sinais: setas armando vôo, alturas vincadas em
sangue e expectativa.
teu arco retesado, bovinos galopes fogem de mim.
pensei que fosse horóscopo, mas é sina, questão
de signo.
tuas flechas alucinadas singram o zodíaco e ferem
de amor meu touro signal...
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VESPERTINA
(flash-conto)
ah!. Palmira, minutamente goteja teu sol em minha praia...
fugiram de mim as horas da tarde.
abandonaram-me os sonhos no exato começo do
sono.
solidão adentro, ardo sem ti.
de oscar kellner neto – do livro O QUILOMBO DE PALMIRA