poesia de maria de lourdes hortas
terça-feira, 20 de março de 2018
segunda-feira, 19 de março de 2018
quarta-feira, 24 de maio de 2017
Diário de Aldeia
A rosa da manhã desfolha-se luminosa
diluindo o silencio
sobre a noite de chuva.
A cerca de jasmins escorre chuva
diluindo o silencio
sobre a noite de chuva.
*
Noite a fora
o flamboyant contou à chuva sua história
e ela a semeou na relva do jardim.
o flamboyant contou à chuva sua história
e ela a semeou na relva do jardim.
*
perfume intenso acordando o sol.
*
comentário do poeta pernambucano José Terra
querida Lurdinha, acabei de acessar seu blog, passei uns 20 minutos pra colocar minha opinião e não consegui...
eis o comentário que fiz dentro do poema " revisitação":
"Belo poema, Lurdinha!
ele retrata bem a sua poesia
lírica e livre como uma rosa e uma primavera
e como sempre, traz o traço marcante de sua linguagem:
a elegância.
a elegância.
Que seu blog tenha vida longa
assim como tem a sua poesia
Parabéns pela simplicidade e beleza! "
do seu leitor e fã
José Terra
HOMENAGEM AO POETA MAURO MOTA
No centenário do nascimento de Mauro Mota , (16 de agosto de 1911), deixo aqui registrada a minha homenagem a esse grande poeta pernambucano da Geração 45.
Tive o prazer e a honra de conhecê-lo no final dos anos setenta, quando comecei a aparecer nas rodas literárias do Recife. Mauro gostava de frequentar o Clube Alemão, na Estrada do Encanamento, entre Casa Amarela e Parnamirim. Em certos dias da semana, ao fim da tarde , lá se encontrava com outros poetas e escritores. E foi numa desses encontros de poesia que o conheci. Depois, algumas vezes , cruzei com ele na rua do Imperador, o poeta a caminho do Arquivo Público,( onde era Diretor), e eu do Gabinete Português de Leitura, que Mauro Mota frequentou assiduamente. Mais tarde, deu-me a alegria de escrever, um breve mas valioso comentário acerca da minha poesia , no Diário de Pernambuco.
Mauro Mota faleceu no dia 22 de novembro de 1984. Nesse dia estava eu em Juiz de Fora (MG), para assumir o meu lugar de sócia correspondente na Academia de Letras daquela cidade. No início da sessão, prestei-lhe uma singela homenagem, tomando-o como meu padrinho e recitando uma das suas belas elegias.
Mauro Mota foi membro das Academias Brasileira e Pernambucana de Letras ( sendo, desta última, presidente durante vários anos).
Sua obra atravessou fronteiras, com poemas traduzidos em inglês, italiano e espanhol.
Da “Antologia Didática de poetas pernambucanos” (1988, org. por Ézio Rafael , Cremilda de Matos e Izabel M. da Silva ), transcrevo o trecho que se segue e, a seguir, o poema referido no mesmo:
Poeta profundamente identificado com a paisagem, as ruas, os costumes e os valores de sua terra, procurou, no entanto, numa simples descrição de uma rua, como a Rua do Crespo, por exemplo, dar-lhe sempre uma transcendência lírica universal”.
RUA DO CRESPO (1870)
( Em desenho de Scklappritz)
MAURO MOTA
Lojas vestindo anáguas:
As marquises de pano.
Dois cachorros sem dono
Mordem o primeiro plano.
Um soldado a cavalo
O que tanto vigia?
Ah, se prender pudesse
Esse tempo e esse dia!
Agitam-se as parelhas
Ao sinal do boleeiro.
Para onde a diligencia
Conduz os passageiros?
Onde estão os meninos
Daqui, que não escutam
O pregão das escravas
Com sequilhos e frutas?
Os lampiões em fila
São, de longe, pedestres
Magros, andando retos
Para a igreja no fundo.
( Um homem prevenido
Abre o seu guarda-roupa).
Vem caindo a neblina
Das varandas na rua.
(in Antologia Didática de Poetas Pernambucanos )
LEITURAS
Viagens Gerais, poesia
Celina de Holanda
Fundarpe / Cepe
Recife, 1995, 370 pgs.
Desde O Espelho e a Rosa ( estréia,1970), até Afago e Faca ( inédito por vários anos e agora publicado nesta coletânea), a obra de Celina de Holanda vem se construindo sobre as premissas que lhe deram origem: a luz e a sombra, o jardim e o interior, o consciente e o inconsciente, a intuição e o conhecimento. Por outras palavras: sobre o universo mágico do Engenho Pantorra, onde viveu a infância, entre as histórias dos pretos velhos e os livros da biblioteca da casa, sempre atualizada:
Chego às janelas da noite
Meus olhos buscam o que era (...)
O poema de Celina que serve de pórtico ao livro não poderia ter sido melhor escolhido, pois é também uma espécie de mapa que, à partida para estas Viagens, desvela ao leitor as gerais intenções das mesmas:
Viajo pelos livros que faço
Mas sempre torno
Para escreve-los
Onde a vida é uma menina
Chorando
Entre moitas.
A afirmativa da autora faz-nos concluir que, nela, a escrita, mais do que um mecanismo lírico de regresso ás origens, é a própria forma de subverter os limites cronológicos: escrever é voltar ao antigo cenário bucólico,
... onde havia as águas caindo
na rampa da cachoeira
parecendo lençol branco
por entre espumas fugindo(...)
passando rente na mata
onde gritava o pavão (...) pág.95.
Nesse alumbramento das águas despencando em vertigem, abismo de espuma fugitiva, a poesia a tocou, escolhendo-a para a sina de dizer os sentimentos. Na verdade, a poesia chegou à vida de Celina com a naturalidade com que, pela manhã, chegavam os pássaros às varandas da casa da infância. Varandas que, de resto, também se abriam para o poço fundo das suas inquietações:
Um espelho e seus dois lados
Réptil e pássaro
O que somos.(...)
Para onde essas rotas de vôo
Se abrem e se apagam?
Dessa vivencia telúrica da zona da mata pernambucana e, por certo, da convivência com o chão de barro plasmável ,no qual moldou seus versos, lhe ficou o gosto pelo simples e essencial:
Que tudo em si lembrava
Madressilvas
Malvas cheirosas
Verdes moitas
Manhãs
Frescor e orvalho.
Luminosa, com o despojamento e a grandeza das pequenas coisas, a poesia de Celina de Holanda brota com a naturalidade das fontes - espontaneidade que não é fácil alcançar. Um poeta espontâneo português, Manuel da Fonseca, confessa: ”Ser espontâneo dá-me muito trabalho”. Isso porque, a simplicidade do texto poético não se confunde com pobreza ou acaso. Na leitura desta recolha da obra de Celina, percebe-se que ela conseguiu harmonizar a sensibilidade e a percepção com um sexto sentido estético, equipamentos que, mesmo fazendo parte da bagagem genética do poeta, só se aprimoram com leitura e exercício da escrita, somados ao sábios filtros da vivencia e do tempo.
Quanto à temática da sua poesia, o título de um dos seus últimos livros já referido – Afago e Faca – é metáfora e síntese. Sem dúvida, a trajetória da poetisa tem se firmado sobre essas duas bem definidas vertentes. Solidários,
o tema social ( faca) e o tema afetivo ( afago) se entrecruzam continuamente. Assim, sem conseguir compactuar com a injustiça social, ou com o desconforto emocional diante de uma realidade que agride os seus princípios cristãos, Celina toma a palavra, com energia e veemência:
Ouço o povo numeroso de Deus.
(...) Ouço as portas.
É o clamor do povo de Deus, abrindo-as. (pág.190)
Todavia, a meu ver, a grande força da sua poesia acontece nos poemas de tom elegíaco: aí cresce e se dilata, despindo-se do circunstancial e ultrapassando limites geográficos e temporais:
Tudo já aconteceu. Coloca a insígnia
(primado do sinal) sobre o meu peito
E um penso de amor sobre esta chaga.
Escuta o pássaro
Rolando
Como um jornal velho, rasgado,
A asa da ascensão cortada. Sua beleza
Guardarei sobre o meu corpo
Como um fruto
A que se tira a casca.
Mas
Dá-me um pouco da tarde onde ficamos.
Maria de Lourdes Hortas
(Publicado no jornal literário O PÃO, Fortaleza/Ceará, junho,1996)
+ Recife,1999
(para um livro de ensaios, talvez sob o título LEITURAS DIVERSAS E OUTROS TEXTOS)
AS VIAGENS GERAIS DE CELINA DE HOLANDA
Viagens Gerais, poesia
Celina de Holanda
Fundarpe / Cepe
Recife, 1995, 370 pgs.
Desde O Espelho e a Rosa ( estréia,1970), até Afago e Faca ( inédito por vários anos e agora publicado nesta coletânea), a obra de Celina de Holanda vem se construindo sobre as premissas que lhe deram origem: a luz e a sombra, o jardim e o interior, o consciente e o inconsciente, a intuição e o conhecimento. Por outras palavras: sobre o universo mágico do Engenho Pantorra, onde viveu a infância, entre as histórias dos pretos velhos e os livros da biblioteca da casa, sempre atualizada:
Chego às janelas da noite
Meus olhos buscam o que era (...)
O poema de Celina que serve de pórtico ao livro não poderia ter sido melhor escolhido, pois é também uma espécie de mapa que, à partida para estas Viagens, desvela ao leitor as gerais intenções das mesmas:
Viajo pelos livros que faço
Mas sempre torno
Para escreve-los
Onde a vida é uma menina
Chorando
Entre moitas.
A afirmativa da autora faz-nos concluir que, nela, a escrita, mais do que um mecanismo lírico de regresso ás origens, é a própria forma de subverter os limites cronológicos: escrever é voltar ao antigo cenário bucólico,
... onde havia as águas caindo
na rampa da cachoeira
parecendo lençol branco
por entre espumas fugindo(...)
passando rente na mata
onde gritava o pavão (...) pág.95.
Nesse alumbramento das águas despencando em vertigem, abismo de espuma fugitiva, a poesia a tocou, escolhendo-a para a sina de dizer os sentimentos. Na verdade, a poesia chegou à vida de Celina com a naturalidade com que, pela manhã, chegavam os pássaros às varandas da casa da infância. Varandas que, de resto, também se abriam para o poço fundo das suas inquietações:
Um espelho e seus dois lados
Réptil e pássaro
O que somos.(...)
Para onde essas rotas de vôo
Se abrem e se apagam?
Dessa vivencia telúrica da zona da mata pernambucana e, por certo, da convivência com o chão de barro plasmável ,no qual moldou seus versos, lhe ficou o gosto pelo simples e essencial:
Que tudo em si lembrava
Madressilvas
Malvas cheirosas
Verdes moitas
Manhãs
Frescor e orvalho.
Luminosa, com o despojamento e a grandeza das pequenas coisas, a poesia de Celina de Holanda brota com a naturalidade das fontes - espontaneidade que não é fácil alcançar. Um poeta espontâneo português, Manuel da Fonseca, confessa: ”Ser espontâneo dá-me muito trabalho”. Isso porque, a simplicidade do texto poético não se confunde com pobreza ou acaso. Na leitura desta recolha da obra de Celina, percebe-se que ela conseguiu harmonizar a sensibilidade e a percepção com um sexto sentido estético, equipamentos que, mesmo fazendo parte da bagagem genética do poeta, só se aprimoram com leitura e exercício da escrita, somados ao sábios filtros da vivencia e do tempo.
Quanto à temática da sua poesia, o título de um dos seus últimos livros já referido – Afago e Faca – é metáfora e síntese. Sem dúvida, a trajetória da poetisa tem se firmado sobre essas duas bem definidas vertentes. Solidários,
o tema social ( faca) e o tema afetivo ( afago) se entrecruzam continuamente. Assim, sem conseguir compactuar com a injustiça social, ou com o desconforto emocional diante de uma realidade que agride os seus princípios cristãos, Celina toma a palavra, com energia e veemência:
Ouço o povo numeroso de Deus.
(...) Ouço as portas.
É o clamor do povo de Deus, abrindo-as. (pág.190)
Todavia, a meu ver, a grande força da sua poesia acontece nos poemas de tom elegíaco: aí cresce e se dilata, despindo-se do circunstancial e ultrapassando limites geográficos e temporais:
Tudo já aconteceu. Coloca a insígnia
(primado do sinal) sobre o meu peito
E um penso de amor sobre esta chaga.
Escuta o pássaro
Rolando
Como um jornal velho, rasgado,
A asa da ascensão cortada. Sua beleza
Guardarei sobre o meu corpo
Como um fruto
A que se tira a casca.
Mas
Dá-me um pouco da tarde onde ficamos.
(Publicado no jornal literário O PÃO, Fortaleza/Ceará, junho,1996)
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